segunda-feira, 14 de julho de 2008

Meu Nascimento

Recados Para Orkut

A primeira vez que nasci foi um erro, mas a segunda vez foi minha decisão. Se o destino ou a sorte não me fez nascer no meu primeiro nascimento, agora renasço como outra, como soma de tudo que não me deixaram ser, pois, meio sem querer, no meio da noite, me tornei filha da exclusão, dos olhares, dos desejos e de uma intensa vontade de existir e existir, pelo menos por alguns momentos, era tudo que eu precisava para sentir que existia alguém morando aqui dentro.
Eu existi quando ao entrar naquele lugar pude ser eu sem sombra de reprovação e de julgamento e foi assim que, de um dia para o outro, me vi e me reconheci em outros e como outra. Mas, o estar "lá dentro" me trouxe uma idéia de falsa liberdade que só existe no "lá dentro" porque o "aqui fora" continua o mesmo, cuspindo a mesma ideologia estagnante. O meu ser se reparte toda vez que saio desses lugares privados e volto ao mundo das idéias monoconceituais.
Eu vivo neste entre-lugar freqüentemente, pois o estar "lá dentro" evoca uma idéia de unidade e de coletividade que me fortalece no meu "aqui fora" e cada vez que o sol se levanta, me lembrando que tenho que partir, eu volto ao estado de não presença do "eu" para dar lugar a um processo de ser uma outra que oprime a totalidade do "eu mesma". A variação de conduta e de postura me leva a pensar que o estado de não presença do "aqui fora" me faça querer sempre estar "lá dentro".
A minha identidade começa a ser moldada por forças que ora me permite ser eu e ora inibi a minha existência. Morro todas as vezes que tenho que abrir mão de um mundo em detrimento de outro como se o "lá dentro" e o "aqui fora" estivessem sempre em dissonância no mundo. No clarear do dia as mãos, os rostos e os sonhos vão sendo distanciados e substituídos pela realidade me trazendo a sensação que todos estão com medo, usando o medo do outro para tentar ser feliz e termina meio assim: todos se usam, se confudem, se definem, mas no final, quase sempre, se distanciam ou, quem sabe, se escondem.
As pessoas, depois de tanto se esconderem, se mostram se escondendo em lugares fechados, em espaços privados fazendo delas mesmas um constante viver nas fronteiras. Eu penso que para uma construção de identidade mais sólida é necessário que o "estar lá dentro" se estenda para o "aqui fora" para que indivíduos como eu possam existir não só em alguns momentos, mas vinte e quatro horas. A experiência que eu tive foi única, singular, boa e, ao mesmo tempo, um pouco confusa, mas se o mundo ainda não está preparado para unificar esses dois espaços, viverei partilhada, fragmentada em vários outros "eus".
Se você é como eu, então, entende o que eu digo. Mas, se também não é?
Não se preocupe. Basta ser feliz!!!
Isso já será um bom começo.
Carla Souza

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